Apatia é uma síndrome neuropsiquiátrica na doença de Alzheimer que afeta entre 30 e 60% dos pacientes. Pode ser definida como perda de motivação e se manifesta com alterações afetivas, cognitivas e comportamentais, determinando, respectivamente, redução da resposta emocional, perda de autocrítica e retração social. Em estudo populacional realizado em São Paulo, no qual foram avaliados 41 pacientes com doença de Alzheimer, a apatia foi a alteração neuropsiquiátrica mais prevalente, sendo identificada em 56,1% dos pacientes, seguida de sintomas depressivos, em 48,8%.
Marin propõe a distinção entre a apatia sintoma, que pode acompanhar estados confusionais ou transtornos do humor, e a apatia síndrome. Esta última compreende alterações afetivas, comportamentais e cognitivas. Não é incomum o cuidador interpretar erroneamente o comportamento apático do doente como "preguiça" ou mesmo como uma atitude desafiadora, o que acentua a insatisfação do cuidador. Do ponto de vista cognitivo, a apatia correlaciona-se com alterações da função executiva, interferindo, por exemplo, na fluência verbal.
O diagnóstico diferencial da síndrome apática na doença de Alzheimer inclui, principalmente, delirium hipoativo e depressão. A distinção mais difícil é entre apatia e depressão. Um dos fatores de confusão seria o próprio critério diagnóstico de depressão do Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-IV), que inclui o sintoma apatia, possibilitando uma superposição conceitual. Mesmo assim, é reconhecido que a apatia e a depressão são síndromes independentes no contexto da doença de Alzheimer, embora possam exibir sintomas comuns, como redução da atividade psicomotora e do interesse.
A síndrome apática é uma das síndromes classicamente relacionadas à lesão ou disfunção do lobo frontal. É importante ressaltar, no entanto, que o córtex frontal é uma região heterogênea, estrutural e funcionalmente, compreendendo áreas motoras e não-motoras. As áreas não-motoras estão envolvidas no processo de determinação de diferentes aspectos do comportamento, sendo denominadas córtex frontal dorso-lateral, orbital ou medial. Outras regiões cerebrais também foram implicadas na determinação da síndrome apática na DA, como a região temporal anterior.
Resumindo, apatia é a síndrome neuropsiquiátrica mais comum na doença de Alzheimer, sendo definida pela perda de motivação e manifestando-se com alterações afetivas (redução da resposta emocional), cognitivas (perda da autocrítica) e comportamentais (retração social). Embora várias opções farmacológicas tenham sido testadas, baseadas principalmente em estratégias dopaminérgicas, não há ainda terapêutica estabelecida para a apatia na doença de Alzheimer.
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